A ambição das estrelas do cinema


Hollywood mexe com a fantasia de milhares de pessoas. Um bom exemplo está no filme Nasce uma estrela (A Star Is Born, EUA, 1937/ 1954/ 1976), sobre o qual falamos um pouco na semana passada. A história gira em torno de uma garota interiorana que sonha em virar estrela de cinema. Ela alcança o estrelato, mas essa vida não se mostra nada fácil.

Mostrar o lado obscuro de Hollywood é um filão frequente no cinema. O clássico noir Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, EUA, 1950) é, porvavelmente, o melhor exemplo. Norma Desmond, interpretada por Gloria Swanson, é a atriz dos tempos de cinema mudo que está em decadência. Ela vive abandonada em um mansão, acompanhada apenos do fiel mordomo Max.


Trailer de Crepúsculo dos deuses

Sua vida muda quando um aspirante a roteirista aparece, sem querer, em sua casa. Norma vê nele a oportunidade de voltar ao estrelato. Para muitos críticos, um dos melhores filmes do cinema e a obra-prima do "mestre de todos os gêneros" Billie Wylder.

Norma é uma atriz amargurada e expõe o lado cruel da indústria cinematográfica. O lado negro da profissão também aparece em A Malvada (All About Eve, EUA, 1950). Coincidentemente, esse filme e Crepúsculo dos Deuses são do mesmo ano. Os dois concorreram ao Oscar, mas a estatueta ficou com a história de Eve e Margo. Dessa vez o mundo é o teatro.
Margo Channind (Bette Davis) é uma atriz de grande sucesso e renome. Tudo ocorria bem na sua carreira até a chegada de Eve Harrington (Anne Baxter), uma aspirante a atriz. Ela aparece com um jeito tímido e doce e acabando conquistando a confiança das pessoas mais próximas de Margo. A estrela continua com certa desconfiança, mas acaba cedendo aos apelos. Mas o que ninguém esperava acontece, Eve se vale da posição ao lado de Margo para puxar seu tapete e subir para o estrelato.

Não há maniqueísmos. Nos dois filmes, as atrizes são ambiciosas, vaidosas e estão longe de serem "boas moças". A vida de estrela também não é fácil, os altos e baixos são inerentes à carreira.

Fernanda Pônzio e Pedro Ivo
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Assessor e porta-voz: no mesmo lado que o publicitário


No último post falamos sobre o publicitário, com destaque para o filme Crazy People. Hoje continuamos pelo mundo das vendas e da imagem, mas mudamos um pouco de foco. Os personagens são o assessor e o porta-voz.

Para o primeiro caso, um bom exemplo vem do filme Nasce uma Estrela (A Star Is Born), que tem três versões, a original de 1937 e as refilmagens de 1954 e 1976.

O mote do filme é a história de uma moça interiorana que sonha em ser uma estrela de cinema.

Esther Hoffman vai para Hollywood, passa por alguns perrengues, mas chega ao tão sonhado estrelato.

Engana-se quem pensa que a vida de artista ocorreria as mil maravilhas... A atriz passa por um grave problema pessoal. Para piorar, ainda convive com o assessor do estúdio de cinema. Um sujeito que só pensa na divulgação dos filmes e em colocar suas estrelas na mídia.


Trailer da versão de 1954 - em inglês
Ainda nessa linha encontramos o porta-voz.

Em Obrigado por fumar (Thank You for Smoking), Nick Naylor é o porta-voz de uma grande empresa de cigarros. Quando desafiado por agentes de saúdes e por um senador que deseja colocar rótulos de veneno nas embalagens dos maços, Naylor começa a manipular as informações sobre os efeitos do cigarros. Para isso, contará com a ajuda de um super agente de Hollywood.


Trailer em inglês


Mais uma vez, temos um personagem inescrupuloso. O objetivo é apenas a venda. Não há ética ou bons costumes.

Nesta semana, vamos falar novamente sobre Hollywood. Atores e atrizes são as próximas profissões!
Boa sessão!

Fernanda Pônzio
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O publicitário mentiroso no cinema


“No mundo da publicidade não existe mentira, apenas exagero”. Essa é uma fala de Rogher Thornhill (Cary Grant) no filme "Intriga Internacional", de Alfred Hitchcock e a mais apropriada para abrir esse post dedicado ao estereótipo do publicitário no cinema.

O publicitário está no imaginário das pessoas como um profissional que manipula outras pessoas para fins comerciais. Para tanto, um dos seus "talentos" retratados no cinema é a mentira. Esse estereótipo explorado nos filmes pode ter sido criado pela atuação de alguns profissionais, como destaca o redator publicitário, Renan Corrêa, no post do Casa do Galo "O estereótipo do publicitário em filmes".

Não podemos negar que muitas vezes somos enganados pelas embalagens, outdoors, publicidades nos meios televisivo e impresso e nos decepcionamos com os produtos comprados. A maioria dos alimentos é muito apetitosa apenas na embalagem. Mas como seria se um profissional de publicidade decidisse ser completamente sincero?

Emory Lesson, vivido por Dudley Moore, no filme Crazy People - Muito Loucos (1990), é um publicitário que decide, após uma crise de honestidade, dizer apenas a verdade sobre o produto da sua nova campanha. Seu chefe - Charles Drucker (J.T. Walsh) - recusa a ideia e ainda o interna em um sanatório. Mas o material da campanha começa a ser veiculado por engano e vira um sucesso. Drucker, então, assume os créditos do novo conceito de publicidade, sem mencionar Emory.


(Cena de Crazy People - em inglês)


O filme é uma "sátira à publicidade que funciona". Além de fazer a clara crítica em relação a postura ética do profissional por meio do personagem principal e do chefe (que não é ético ao "roubar" a ideia ex-funcionário), nos faz refletir sobre a necessidade de persuadir o consumidor. Como seria a recepção de um produto que mostra a realidade na embalagem? Questão muito mais complexa a ser trabalhada em outro momento, mas que pode ser pensada no nosso dia-a-dia.

Como recusar também que o publicitário - além de ser estereotipado - utiliza, muitas vezes, estereótipos em diversas campanhas. A todo momento vemos representações de diversos grupos e indivíduos nas publicidades. "(...) imagino que o uso de estereótipos e dos contra-estereótipos é inevitável na publicidade", afirma Marcos Emanoel, professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia, em "Estereótipos, publicidade e psicologia social".

Você confere ainda esta semana mais sobre a discussão do estereótipo do publicitário no cinema.
Boa sessão!

Samanta Nogueira
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Enquete sobre o estereótipo do soldado no cinema


O estereótipo de soldado não é um consenso. Uns acham que a representação dele nos filmes está próxima do real. Outros acreditam que há uma valorização excessiva, cria-se a figura de um herói. Para saber o que as pessoas acham do estereótipo dos soldados nos filmes de guerra, o Profissão em cena foi às ruas. Na maioria das vezes, quando pensam em estereótipos de soldados, os entrevisados lembraram de filmes americanos. Confira a enquete.






Alguns dos filmes citados pelos entrevistados são clássicos do cinema. É interessante observar que alguns se lembraram de filmes que retratam apenas o papel de salvador e defensor da pátria. Como é o caso de O resgate do soldado Ryan. Há outros em que o diretor exagera na dose, e o filme se aproxima mais da ficção, como o Rambo.

Outros apontaram filmes que abordam a profissão militar de uma maneira mais crítica. Cartas de Iwo Jyma de Clint Eastwood mostra a visão dos soldados japoneses, contando a história da Segunda Guerra Mundial por outro ângulo. Já Platoon aborda o lado mais sangreto da guerra, em que um jovem recruta idealista chega à guerra do Vietnã confiante em defender seu país. Com o tempo passa a conviver com a loucura do conflito e a carnificina desenfreada.


Trailer de Cartas de Iwo Jima - em inglês


O Profissão em cena não pode analisar todos os filmes, mas vale a pena conferir alguns dos citados nos posts e asisistir às histórias cinematográficas com uma visão mais crítica. E perceber se o que pensamos a respeito dos soldados é ou não passado pelo cinema. Boa sessão!

Pedro Ivo e Titina Cardoso
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A moral dos soldados posta à prova


Um soldado salvando vidas com uma trilha sonora "melosa"ao fundo. Esta é uma cena recorrente em filmes de guerra americanos. O estereótipo do soldado “bom”, ético, correto, amigo, protetor e leal é um dos mais difundidos por Hollywood, como no filme "Lágrimas do sol" (Tears of the Sun, EUA, 2003) do diretor Antoine Fuqua, o mesmo de o Dia de Treinamento que o Profissão em cena já analisou.

No filme, o tenente da marinha dos EUA, A.K. Waters, interpretado por Bruce Willis tem seus princípios profissionais testados em uma missão de resgate. Waters tem que escolher entre cumprir a missão de buscar a doutora Lena Hendricks (Monica Bellucci) na selva da Nigéria e atender ao pedido da médica de levar, também, setenta refugiados. Ele fica em dúvida entre cumprir apenas a missão que lhe foi conferida ou ceder à exigência da médica missionária. A opção pela ajuda humanitária acaba envolvendo a equipe de resgate na guerra e as coisas se complicam quando o tenente descobre que entre os refugiados está um homem procurado pela milícia nigeriana.


(trailer de Lágrimas do sol - em inglês)

Ao contrário desse filme, "Pecados de Guerra" (Casualties of War, EUA, 1989), mostra uma imagem negativa dos soldados americanos na Guerra do Vietnã. Baseado em fatos reais, o filme mostra a história de cinco soldados que raptam uma camponesa de sua aldeia, a pedido do sargento Meserve, vivido por Sean Penn, para satisfazer os desejos dele e do grupo. Mesmo que o filme mostre o estereótipo de soldados “maus”, antiéticos e inescrupulosos que estupram e matam uma jovem indefesa, há no mesmo filme um  soldado herói. O recruta idealista Eriksson (Michael J. Fox) se recusa a participar do ato e tenta salvar a mulher. Além de ir contra os colegas e superiores, resolve denunciá-los na justiça militar, onde são julgados pelo crime de estupro e assassinato. Apesar de mostrar o idealismo americano, o filme é uma das primeiras  oportunidades de assistir a uma visão crítica da participação dos americanos na Guerra.


(trecho de Pecados de Guerra - dublado)

Em ambos os filmes a figura do soldado superior dentro do grupo se mostra de maneira inegável. Erickson até consegue descordar de seu superior, mas em nenhum momento chega a enfrentá-lo ou tenta impedí-lo de praticar o ato que condena. O mesmo acontece com o tenente Waters, mesmo que um de seus soldados não concorde em levar os refugiados junto com a médica, acaba aceitando a missão em respeito ao seu superior. Essa relação de hierarquia e os estereótipo de soldados ligado à posição que ocupa se mostra em vários filmes como podemos ver na crítica sobre filmes de guerra e a invasão americana no Vietnã escrito por Daniel Dalpizzolo.


Na quinta-feira você continua conferindo o assunto aqui no Profissão em cena. Boa sessão!

Pedro Ivo e Titina Cardoso
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Ciência é sinônimo de isolamento no cinema


No último post analisamos dois estereótipos do cientista em diferentes filmes: "Ponto de Mutação" e "O homem sem sombra". Para aprofundar a análise no campo, principalmente, da ética na ciência, o Profissão em cena conversou com a professora do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa, Ana Louise Fiúza, sobre o filme de Fritjof Capra. Ela focou a personagem da física Sonia Hoffman.

Ana Louise acredita que na maioria dos filmes com personagens cientistas, estes são retratados "como alguém que está a parte da realidade, alguém que vive meio isolado, ou é uma pessoa estranha". Para a professora, Sonia também se aproxima dessas características, uma vez que ela se define "como uma ex-cidadã americana, ex-eleitora, uma 'ex até mulher', como uma pessoa separada."

Mesmo que Sonia esteja fora da sociedade, Ana Louise afirma que ao criticar a sociedade e propor uma nova forma de fazer ciência, a personagem já está se relacionando com o mundo em que está inserida. "Na verdade ela trabalha dentro da perspectiva da Física Quântica, que é uma perspectiva de superação da própria física, da mentalidade mecanicista." afirma a professora. Ela acrescenta que para a personagem na vida não há certezas, há probabilidades, dessa forma a ciência tem que ser mais cautelosa nas proposições que faz.

No filme, Sonia vai para um vilarejo isolado por não concordar com os fins que seus estudos são aplicados. Ao falar sobre os valores do cientista, Ana Louise, destaca que a ciência não é neutra. "O cientista é o produto da época dele" e as pesquisas e estudos desenvolvidos por ele também estão marcados pelos valores da sociedade da qual fazem parte.

A professora ressalta que isso não isenta o cientista de um rigor nos estudos e de testar as hipóteses que formula. Outro ponto que Fiúza lembra, citando Marx, é que mesmo nos estudos mais inovadores, o cientista depende do contexto em que vive até mesmo para romper barreiras e "ninguém pode ser mais que a sua época permite".

No player abaixo você pode escutar trechos da entrevista com Ana Louise Fiúza.
Pedro Ivo e Samanta Nogueira
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Limites éticos: o cientista no cinema


Toda profissão se depara com a ética no cotidiano do trabalho. Um dos profissionais que mais lida com este assunto é o cientista. Muitas pesquisas e experiências estão no limite do que é considerado certo ou não em uma determinada sociedade e um determinado contexto.

Dois filmes que demonstram bem esse conflito ético é o suspense "O homem sem sombra" (The Hollow Man, EUA, 2000) e "Ponto de Mutação" (Mindwalk, 1990), baseado no livro The Turning Point, do físico austríaco Fritjof Capra (site oficial, em inglês).

O primeiro filme trata de um cientista genial, porém ganancioso ao ponto de não respeitar limites morais da profissão. Dr. Sebastian Caine, interpretado por Kevin Bacon, não mede esforços para alcançar o êxito na experiência na qual acredita. Para isso ele chega a por em risco a vida de cobaias envolvidas na pesquisa. Ele também testa o experimento que possiblita a invisibilidade em si mesmo, mas sua equipe não consegue reverter o processo. Com isso o clima de tensão entre o doutor e sua equipe aumenta e o Dr. Caine se torna uma pessoa agressiva e descontrolada.

Veja trechos do filme no Youtube.

Já o "Ponto de Mutação" trata de uma cientista que abandona a profissão por não concordar com os fins nos quais sua experiência será aplicada. A física Sonia Hoffman, vivida por Liv Ullmann, se muda para um vilarejo no interior da França para repensar a vida e a profissão. A trama é basicamente um diálogo entre Sonia, o senador americano Jack Edwards (San Waterston) e o poeta Thomas Harrimann (John Heard). Ela defende a teoria dos sistemas vivos, baseada nas redes de relações das essências das coisas vivas. Uma nova forma de fazer ciência.


(trecho do filme "Ponto de Mutação - legendado)

No filme "O homem sem sombra" podemos observar várias características apontadas no post "Top 10 estereótipos de cientistas malucos no cinema" no blog Blogpaedia, como o uso de recursos científicos sem freios, aplicação do experimento em si mesmo e comportamento psicóticos.

Além desses dois estereótipos podemos observar no cinema vários estereótipos de personagens de cientistas. A jornalista Lacy Barca, no artigo "As múltiplas imagens do cientista no cinema" (. pdf) trata das diversas representações dos cientistas no cinema ao longo do tempo. Lacy Barca ressalta a tendência atual de criação de personagens heróicos e descontraídos, isso leva a uma construção positiva acerca da imagem do cientista.

Confira no post de quinta-feira mais informações sobre o estereótipo do cientista no cinema. Boa sessão!

Pedro Ivo e Samanta Nogueira
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O mundo é feito de heróis e vilões


Para complementar o assunto dessa semana – a imagem do policial disseminada pelo cinema – o Profissão em cena entrevistou um ex-policial militar que nos mostra a visão do profissional a respeito dos estereótipos presentes nos filmes.

Emir Larangeira trabalhou como policial no estado do Rio de Janeiro por 25 anos. Em 1990, foi eleito deputado estadual. Hoje, é escritor de ficção e um verdadeiro polêmico em questões relativas à segurança pública.

Confira o que ele falou a respeito de honestidade, corrupção e violência no universo policial.

O senhor, que já foi policial militar e conviveu com colegas policiais, acha que eles se dividem em honestos e corruptos como é mostrado nos filmes?

Creio que o mundo é feito de contrastes, de sim e não, de herói e vilão. O policial oscila entre um e outro, mas o estereótipo é inegável, e não se trata do Brasil nem de época. Só como exemplo, no caso do PM, ou, como era no passado, mais nitidamente, no caso do “soldado de polícia”, o preconceito é duplo. Como os exércitos sempre sustentaram o poder dos mandatários (reis, czares, imperadores, ditadores etc.), a figura do militar não costuma ser bem-vinda, exceto quando ele defende a pátria contra agressões estrangeiras. Assim, de um lado o soldado é amigo; do outro, é inimigo. Eis o contraste. Portanto, acho normal que exista o policial honesto e o policial corrupto, sendo certo que o inusitado é o que gera a notícia. A sociedade e os cidadãos esperam que o policial seja honesto. Quando ele assim procede, torna-se “invisível”; mas se ele erra ou se corrompe, a notícia corre como praga. Também ocorre com as demais profissões. A diferença é que quando um médico erra no diagnóstico, por exemplo, o erro é somente dele, não é da classe médica. Quando um policial erra ou se corrompe, o erro é dele e da instituição. Pior é que ela, a instituição, no afã de salvar sua imagem, faz questão de anunciar o seu “lado punitivo”, esquecendo-se de divulgar os bons serviços que ocorrem concomitantemente com os erros.
O policial, independentemente de ser ou não corrupto, costuma ser ridicularizado. Quem é policial useiro e vezeiro em dizer que só gostam dele os familiares e seus amigos. Estamos, pois, diante de uma relação de causa-efeito dependente de quem decide: o cineasta, o autor, o produtor etc. Se a população trata mal o seu policial, ele reage maltratando-a. Em Los Angeles, o cinema mudou o comportamento do policial. Houve um tempo em que a polícia de Los Angeles era considerada totalmente corrupta e violenta. Alguns cineastas apostaram no “policial herói” e produziram seriados nesse sentido. A polícia se transformou e se tornou excelente aos olhos do povo, e o policial real, sentindo-se o herói do filme, passou a olhar o cidadão como um ente a ser protegido. Mudança radical para melhor, graças ao cinema.

O senhor acha que o cinema criou essas figuras policiais antagônicas ou ele se apropriou da realidade para criar seus personagens?
Creio que as duas situações contidas na pergunta são válidas. Tanto o filme pode contribuir para melhorar como para piorar o policial real. Se você assiste a um filme mostrando o policial-herói, você sai do cinema e pode até olhar um policial na rua com carinho. Ele, por sua vez, percebendo a cordialidade, poderá retribuí-la. Ou não... Mas uma coisa é certa: se você se impressiona negativamente por conta do personagem “antagônico”, sua tendência é a de olhar o policial real com rancor ou desconfiança. E receberá, com certeza, tratamento equivalente, ou seja, ruim. Portanto, não sei dizer se o cinema se apropria da realidade ou introjeta no público espectador uma falsa realidade. Há erros médicos? Sim. Mas se o cinema só introjetar no espírito dos cinéfilos a imagem do médico ruim, poderá produzir um efeito perverso em determinada comunidade, que passará a achar que todos os médicos são ruins. Creio, portanto, que as duas situações são passíveis de serem verdadeiras. A questão é a medida certa das coisas. Que objetivo tem o cinema? Entreter as pessoas ou criar ideologias?... Só quem poderá responder à pergunta é um cineasta em determinado momento de sua decisão de produzir um filme para gerar tal ou qual efeito no espírito do seu público-alvo. A manipulação da comunicação é real. Como dizia o tenebroso ministro da propaganda nazista, Goebbels: “Uma mentira repetida mil vezes vira verdade.”

No filme Dia de Treinamento (Training Day, 2001, EUA), um policial novato e correto é treinado por um veterano desonesto. O senhor acredita que pessoas íntegras podem ser corrompidas ao longo dos anos de trabalho na polícia?

Vi o filme. Excelente, por sinal. O que nele ocorre, extraídos os exageros, pode ser reproduzido na realidade. Trata-se de uma complicada relação de micropoderes antagônicos. Se você atentar para uma parte do meu romance O Espião, quando eu falo dos “grupos psicológicos” denuncio exatamente o que sugere o filme. Claro que com roupagem diferente, mas a essência é a mesma. O ambiente corrompe, sim. Besteira negar isto. Pode nem ser a regra, mas a pressão do poder de retaliar dos mais antigos ou dos numericamente superiores sobre um (ainda mais um novato) poderá levar esse um a se corromper até para salvar a pele. Quem defende o contrário, na minha ótica, é falacioso. Claro que as motivações são inúmeras, mas a principal reside no dizer de Machado de Assis (“A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.” – Esaú e Jacó), pois a sociedade é que forja o futuro policial. Ele é o fruto podre da mesma árvore que gerou os demais frutos não-policiais que ingressam na polícia já apodrecidos. O poder, por sua vez, é invariável e indefectivelmente corrupto, ontem hoje e amanhã, aqui e algures. E a sociedade, geralmente conformada, assiste passivamente aos enriquecimentos ilícitos em tudo que é segmento social.

O filme Tropa de Elite foi um grande sucesso e deixou boa parte do público maravilhada perante a violência do BOPE em nome da justiça. Pelo pouco que li de suas opiniões, vi que o senhor é favorável às ações do BOPE. O senhor acredita que o filme retratou fielmente as ações do batalhão? O senhor não acha que a polícia exagera em alguns momentos?

Exagera sim! Mas o povo estimula, a imprensa aplaude e o cinema lucra. O BOPE é treinado para a guerra, para eliminar o “inimigo”. Aqui no RJ, a criminalidade é calamitosa. A mortalidade entre os policiais é absurda. Claro que a reação não pode ser diferente do que se enfrenta. Para mim, malfeitor não é cidadão e não deve ser tratado como tal. Não defendo a violência, mas ela aqui se faz necessária. O BOPE não exagera. Apenas entra na escaramuça para vencer. E faz bem. Não aceito, por exemplo, que um médico morra gratuitamente, como ocorreu nesta semana no Rio, porque foi assaltado ao chegar ao seu prédio residencial com a sua moto BMW. Não reagiu ao assalto, mesmo assim perdeu a vida. Pode isso? Por mim, desculpe-me a franqueza, o bandido tem que se danar, para o bem da sociedade ordeira. Solicito, para defender o meu ponto de vista efetivamente radical, a verificação do que sugere Rousseau no seu Contrato Social a respeito do “malfeitor”.
Agora trato do reparo: o filme não retrata a atuação do BOPE na realidade. O filme é um desserviço ao BOPE. Nenhuma ação do BOPE em favela ocorre do modo como o filme projeta. Mas o livro gerador do filme é catalogado como ficção literária (importante detalhe pouco observado). Por isso vejo o filme como resultante de ficção e, portanto, igualmente ficção. Não é real e não está catalogado como realidade. No caso do filme, não é a polícia que exagera, mas as cenas é que estão exageradas. Nada demais. Os enlatados norte-americanos são milhões de vezes mais exagerados e ninguém se incomoda.

O senhor acha que a estereotipificação negativa da profissão pelo cinema levou a uma perda da imagem heróica do policial? As pessoas continuam acreditando no trabalho da polícia?

Não creio que o cinema seja o vilão da história. Para mim, a mídia impressa, radiofônica e televisiva responde pela má imagem da polícia no Brasil, embora o nosso modelo seja realmente péssimo, ultrapassado, anacrônico, terrível. Mas a mídia não pressiona a classe política para mudar o sistema de segurança pública pátrio. Prefere o quanto pior, melhor. Claro que um sistema erroneamente estruturado em relação aos seus fins tende a não alcançá-los eficazmente. Não há nenhuma eficiência nem eficácia no “sistema de segurança pública” ou “sistema de justiça criminal”, como alguns estudiosos do ramo preferem. Entenda-se como sistema, no mínimo, a sinergia entre Polícia, Bombeiros, DETRAN, Ministério Público, Justiça Criminal, Defensoria Pública, Sistema Carcerário, leis Penais etc. Não há aqui sinergia nem interação que mereça o título de “sistema”. Ora, como falar bem de algo que funciona mal e perde a batalha contra o crime? Como elogiar estruturas arcaicas e presas a tradições e ao poder como um fim em si mesmo? Ora! Não há como elogiar o atual sistema. Mas a crítica deveria ser no sentido de sua mudança estrutural. Deixar assim é ótimo para vender jornais e conquistar audiência, mas péssimo para a sociedade. As pessoas não acreditam no trabalho da polícia porque ele é insuficiente, ruim, derrotado, mesmo, ante a criminalidade crescente e violenta. As pessoas formam um coral negativista com a mídia (sensacionalista, ao modo “Cidadão Kane”), em vez de questionar mais profundamente o falho sistema. Todos estão no continente da questão, mas a criminalidade já afetou o seu conteúdo. Quem paga o pato, ao fim e ao cabo, é o povo, e não a polícia. Creio, portanto, que o cinema represente o menor mal. Não é o vilão dessa triste história...

Titina Cardoso




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Policiais no cinema: entre a honestidade e a corrupção


Em meio às estantes da locadora, a seção de filmes policiais tem lugar cativo. Tiros, ação, violência... E geralmente com o personagem que dá nome ao gênero: o policial.


Esses personagens andam por um terreno perigoso. Muitos seguem o caminho da honestidade. Outros tantos vão para o lado inverso, o da corrupção. Os policias são tipos ideais para tramas que requerem uma boa dose de ação.


Recentemente, o brasileiro Tropa de Elite ganhou destaque na mídia e entre a própria população. O filme retrata o trabalho do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE. A dura rotina dos policiais exposta no filme gerou discussões e polêmicas.Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura, é um policial considerado honesto, que decide sair do batalhão. Para isso, deve achar um substituto adequado.


Essa temática não é nova. Treinamentos policiais estão entre os filões preferidos desses filmes. Em 2002, Denzel Washington arrebatou o Oscar de Melhor ator por sua atuação no filme Dia de Treinamento (Training Day, 2001). Na história, Washington é Alonzo Harris, policial responsável pelo treinamento do jovem Jake Hoyt, personagem de Ethan Hawke. Nesse caso, o veterano Harris caiu no mundo da corrupção.












Na quinta, você confere uma análise sobre esses estereótipos. Vamos conversar com um escritor e ex-policial.

Boa sessão!







Fernanda Pônzio

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A irreverência de um professor que faz a diferença


No post de segunda-feira começamos a falar sobre o estereótipo do educador que tenta fugir do padrão conservador das escolas, a partir dos filmes Sociedade dos Poetas Mortos e O Sorriso de Mona Lisa. Ninguém melhor para nos contar se existe esse tipo de professor, que procura transformar os alunos e o ensino em si de forma irreverente, do que um educador que durante sua carreira já trabalhou desde a educação infantil ao ensino superior.

O professor doutor em Educação, Willer Araújo, que atualmente trabalha na Universidade Federal de Viçosa (UFV), atua na área desde 1978. Por meio de aulas que fogem do padrão formal, Willer afirma que busca dialogar com as pessoas do lugar onde elas estão, e tenta a partir disso fazer um avanço de maior rigor de reflexão e de maior sistematicidade para que o conhecimento e as experiências daquelas pessoas se fortaleçam.

Sabendo da fragilidade desse processo e da dificuldade de traçar o perfil de uma turma, o professor ressalta que altera o desenho didático continuamente e que, às vezes, consegue fazer acertos mais efetivos. "Eu costumo dizer que se eu chego ao final do curso com 10% dos meus estudantes sensíveis ao trabalho que fiz, já tive sucesso". 

Willer despertou para a necessidade de ser um diferencial na educação quando deu aula no curso de Magistério, enquanto cursava a graduação. No local onde são debatidos os fundamentos de educação, como os conteúdos e métodos para uma qualidade docente. Desde então, o professor adota uma postura mais radicalizada no sentido de "forçar" um diálogo com os estudantes. Ele parte do princípio de que não há forma sem conteúdo e não há conteúdo sem forma. Por isso, para transmitir um conteúdo transformador, o professor precisa adotar também uma forma transformadora.

O professor acredita que, dentro da UFV, a menor parte dos professores trabalha nessa perspectiva de construir um diálogo com os alunos. Pelo motivo também de os estudantes chegarem na Universidade em uma espécie de servidão voluntária (conceito do autor do século XVI, Etienne de La Boétie, o qual diz que em um lugar hieraquizado, com verdades estabelecidas, o padrão é o servil).

Por agir de forma diferente, Willer acha que produz resistência nos alunos, nos demais professores e na própria instituição que acham satisfatório o professor cuidar dos alunos na sala de aula. Ele diz que não sofre preconceito, mas que muitas vezes pode ser estereotipado como o professor que não segue uma linha só. Isso não o incomoda uma vez que assume uma postura institucional

"Por mais que eu seja um professor aloprado, no sentido de subir na carteira, para lembrar do filme Sociedade dos Poetas Mortos, com Robin Williams, e por os alunos para subir nelas também, para ver o mundo de outra maneira, eu tenho meu rigor. Eu sou uma pessoa cordial e uma pessoa do diálogo. Eu não sou uma pessoa ressentida e isso inquieta muito os meus adversários", disse.

Na próxima semana você confere o estereótipo do policial no cinema. Não perca e boa sessão! 

Samanta Nogueira

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Ensinando a pensar livremente


O post de hoje é sobre professores a frente de seu tempo que lecionam em colégios ortodoxos dos EUA. Um dos maiores exemplos é o personagem John Keating, de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, EUA), filme de 1989 vencedor do Oscar de melhor roteiro. Com direção de Peter Weir, a obra conta a história de um ex-aluno de uma escola preparatória norte-americana ultraconservadora, a Welton Academy, que se torna professor de literatura no colégio. 

 
Trailer de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, EUA, 1989)



John Keating, interpretado por Robin Williams (biografia em inglês), chega à instituição em 1959 e seus métodos de ensino irreverentes chocam alunos, colegas e a direção do internato. Mas os estudantes acabam se apaixonando por suas idéias, principalmente, a idéia de viver a vida intensamente, de aproveitar todos os momentos, a qual o professor propagava pelos corredores do internato: "Carpe diem!" ("Aproveite o dia!", em latim). O professor, que estimulava os alunos a pensarem por si próprios, acaba tornando-se um modelo para os estudantes, os quais o chamavam de "O Captain! My Captain! ("Oh Capitão! Meu Capitão!", em inglês, em referência ao poema de 1865 que Walt Whitman escreveu sobre Abraham Lincoln). 


Interessados em saber mais sobre o professor, os jovens vasculham os  antigos registros de alunos e descobrem que Keating foi membro de um grupo denominado "Sociedade dos Poetas Mortos". O professor conta a eles que a sociedade era um grupo que se reunia para ler poesia e os alunos, entusiasmados, juntam-se para fazer com que a sociedade ressurja. A partir daí, eles passam a se reunir durante a noite em uma caverna não só para recitarem poemas, mas, também, para exercerem sua liberdade.


Mais recentemente, em 2003, foi lançado o filme O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile, EUA), que conta a história de uma professora nada ortodoxa que é admitida em um colégio preparatório feminino muito conservador. Como observa o professor João Luís de Almeida Machado no site Planeta Educação, muitos consideram o filme uma versão feminina de Sociedade dos Poetas Mortos. 

 
Trailer de O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile, EUA, 2003) - em inglês


Katherine Watson, vivida por Julia Roberts, é uma professora de História da Arte que sai da Califórnia para lecionar no Wellesley College em Massachusetts. O sonho dela era dar aula nesse colégio, pois achava que poderia revolucionar as idéias conservadoras das estudantes e, assim, estaria mudando o mundo.


Diferentemente do professor Keating de Sociedade dos Poetas Mortos, Katherine Watson levou mais tempo para ser bem aceita por suas alunas, principalmente por uma delas (Betty Warren, vivida por Kirsten Dunst). As moças eram tradicionalistas tanto em relação à arte (disciplina lecionada por Watson) quanto às idéias de emancipação feminina que ela vivia e pregava. A professora não concordava com o destino que aquelas mulheres iriam tomar: “Esse lugar é uma escola de boas maneiras disfarçada de escola preparatória. Achava que essa escola preparava líderes, não as mulheres deles.”


O que há de comum entre os professores dos dois filmes é que além de eles quererem mudar a visão de seus alunos quanto à literatura, no caso de Keating, e quanto à arte, no caso de Watson, é que há a tentativa de transformá-los em pensadores e donos de suas próprias vidas.

Ainda nessa semana, você confere uma entrevista com o professor Willer Araujo do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa sobre o estereótipo de professores irreverentes em instituições de ensino conservadoras.

Titina Cardoso




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O choque cultural na sala de aula


Para falar sobre o estereótipo do professor no cinema conversamos com a professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa, Dalva Maria Soares.


A professora acredita que o filme “subestima o protagonismo juvenil e superestima o poder do professor”. Ela concorda que o professor é um importante agente transformador, principalmente na escola. Mas também diz que ele não conseguiria sozinho mudar a realidade de uma turma, como acontece no filme. Dalva comenta sobre o filme Coach Carter - Treino para a vida, em que também há o estereótipo de agente transformador. Nesse caso, o agente é o técnico do time de basquete de uma escola na periferia da Califórnia.


Dalva acredita que “a escola não avalia (apenas), ela faz julgamentos morais” e exige do estudante um comportamento esperado em uma determinada sociedade. “O estudante deve dominar os códigos sociais” afirma ela. Isso é o que acontece no filme Ao mestre com carinho, quando o professor muda sua postura em sala e trata os estudantes como adultos. Mark Thackeray espera que os alunos o tratem de uma forma que não estavam acostumados. Ele determina que os estudantes devem ser formais, até na forma de se tratarem, chamando-o de mestre ou pelo sobrenome e os colegas de classe com formalidade. Os ensinamentos se estendem, saem da classe. O professor Thackeray fala sobre modos, comportamentos e até casamento.


Dalva conta que no início da carreira “tinha a pretensão de atingir a todos os alunos, mas com a experiência profissional percebeu que atinge um ou outro”. Ao contrário do que é mostrado no filme, ela afirma que na realidade acontece de “atingir um (estudante) e a maioria reluta em mudar”. Isso porque as motivações do professor e estudante, e entre os próprios alunos, são diferentes frente à educação.


O que acontece dentro de sala é um choque cultural. Dalva utiliza um termo de Pierre Bourdieu ao falar que a diferença entre o capital cultural dos professores e dos alunos muitas vezes impede uma comunicação efetiva dentro da sala de aula. Não é possível que se tenha uma boa aula sem que o professor e estudante tenham uma percepção próxima do papel da educação, este processo é dialógico.


Atualmente os professores encontram grande dificuldade de se comunicarem com os alunos. Dalva avalia que a universalização do ensino criou um problema nas escolas: o perfil dos alunos mudou e se tornou diversificado, isso “acabou transformando a identidade do professor”. O educador tem que lidar com uma realidade para a qual não foi preparado. “O mundo é outro e a escola não mudou” diz a professora.


Ao falar do cotidiano do professor, Dalva lembra do livro Alienígenas na sala de aula: Uma introdução aos estudos culturais em comunicação. Para a professora, dentro da sala de aula “um não fala a língua do outro”. Ela considera ainda que a o processo educativo “tem que fazer sentido”, tanto para o aluno como para o professor, dois sujeitos sociais distintos com uma visão diferente sobre a escola.


Na semana que vem nós continuamos analisando o professor no cinema. Não perca! Boa sessão!
Fernanda Pônzio e Pedro Ivo
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O papel do professor


Esta e a próxima semana serão dedicadas ao professor. Neste post vamos falar sobre o filme Ao Mestre com Carinho (To sir, with love, Reino Unido,1967), de James Clavell. O filme é baseado no livro homônimo de Eustace Ricardo Braithwaite.

A história é sobre um professor negro que por falta de oportunidades de trabalhar como engenheiro resolve lecionar em uma escola secundária de um bairro operário de Londres, East End. Mark Thackeray, interpretado por Sidney Poitier, enfrenta as hostilidades de uma turma indisciplinada. A princípio, ele sofre e não recebe a atenção dos alunos que querem a saída de Thackeray, assim como fizeram com os professores antecessores. Ele também não encontra apoio de alguns professores, desacreditados no papel da educação. Mesmo com as dificuldades, Mark não desiste e aos poucos vai conquistando os estudantes.

Mark Thackeray aceitou lecionar como uma ocupação temporária. Mas a relação que cria com os alunos o faz repensar essa posição. Ele é convidado a voltar a trabalhar como engenheiro no interior do país. Ao ser homenageado na formatura dos alunos se emociona e tem que decidir se pretende continuar na escola.


(trecho de Ao mestre com carinho - legendado)

Este estereótipo do professor criado pelo cinema pode ser visto também no filme "Meu mestre minha vida" (Lean on Me, EUA, 1989) com Morgan Freeman. O professor Joe Clark tem uma postura mais autoritária que Mark Thackeray, mas é representado como o agente transformador de uma escola com estudantes rebeldes.

Em ambos os filmes, a figura do mestre é vista como a responsável pela mudança e melhoria da situação de escolas com estudantes problemáticos. O professor Mark Thackeray é retratado como uma pessoa ética, honesta e idealista. Este estereótipo revela a importância da educação como elemento formador de cidadãos.

Na quinta-feira o Profissão em cena traz uma entrevista com a professora do Departamanto de Educação da UFV, Dalva Maria Soares. Ela fala sobre o filme, a representação do professor no cinema e o cotidiano deste profissional. Boa sessão!

Fernanda Pônzio e Pedro Ivo
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O advogado idealista nos filmes norte-americanos


No post anterior falamos sobre mais um personagem heróico nos cinemas. O advogado idealista, que faz de tudo para defender os direitos de um cliente. Para exemplificar esse personagem escolhemos o clássico O Sol é Para Todos (To Kill a Mockinbird).



(Trailer de O Sol é Para Todos - em inglês) 

Não podemos esquecer também dos advogados idealistas Jake Tyler Brigance, vivido por Mathew McConaughey, e Ellen Roark, representada por Sandra Bullock, no filme Tempo de Matar (A Time to Kill, 1996) que defendem um pai que faz justiça com as próprias mãos e enfrentam uma sociedade racista.

Mas será que os advogados se sentem heróis na vida real? Como é visto esse estereótipo  pelos profissionais da área?

O advogado Davi Lelis acredita que como qualquer outra profissão, a advocacia é movida pelo interesse financeiro devido à dinâmica social na qual vivemos, mas isso não impede o advogado de tentar melhorar a sociedade.

"Com um maior número de advogados idealistas, menor ficará a estigma do advogado como um profissional mesquinho que pensa apenas no interesse financeiro", disse. Davi afirma que ao se aproximar do significado de herói, o advogado estará ajudando a construir uma sociedade mais justa.

Nos filmes norte-americanos, a especialidade mais retratada é a do advogado criminalista, como percebemos no filme O Sol é Para Todos. O crime (ou a suspeita dele) provoca maior comoção nas pessoas e gera mais emoção na história.

Mas Davi Lelis lembra que o sistema jurídico norte-americano é diferente do brasileiro. Enquanto lá vigora o Common Law, no qual o direito é garantido no tribunal por meio da jurisprudência, aqui é adotado o sistema Romano-Germânico, caracterizado pelo direito escrito, com códigos e legislações. "Com certeza um filme brasileiro baseado em nossa dinâmica jurídica atual levaria a platéia ao tédio", ressaltou.

O advogado destaca ainda que os filmes O meu Primo Vinny, Advogado do Diabo e O Sol é Para Todos  representam os  diferentes estereótipos do profissional no cinema. Para ele, o advogado é retratado de acordo com o interesse em cada filme.


Para lembrar o Dia do Professor que é comemorado nesse mês, você acompanha, na próxima semana, a série sobre o estereótipo do professor nas telonas.



Samanta Nogueira

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O maior herói


Na semana passada começamos a falar sobre o advogado no cinema. Hoje continuamos, mas vamos apresentar a outra faceta dessa profissão: o herói.

Em 2003, o AFI, American Film Institute (em inglês), elegeu os maiores vilões e heróis do cinema. E lá estava ele, o advogado, figurando no topo da lista dos mocinhos. O dono da façanha é Atticus Finch, personagem de Gregory Peck em O Sol é Para Todos (To Kill a Mockinbird, 1962). O filme é baseado no livro homônimo da escritora norte-americana Harper Lee (em inglês). Essa obra ganhou o Prêmio Pulitzer.

A história é contada por Jean Louise, filha do advogado Finch. Ela relembra um caso de sua infância que mudou a vida dela e da família.

Maycomb, Alabama. Em 1932, Tom Robinson, um negro, é acusado de estuprar uma jovem branca. Finch decide defendê-lo, mesmo com grande parte da cidade se voltando contra a decisão. A inocência de Robinson é evidente, o que não impede o preconceito e a hostilidade da população conservadora.

Peck ganhou o Oscar (em inglês) de melhor ator por sua atuação nesse filme. O personagem é visto como um exemplo de herói. Passou por cima do preconceito, expôs a família, perdeu o prestígio... Tudo em nome da verdade e da certeza de estar fazendo o correto. Mais. O advogado passa esses valores aos dois filhos, órfãos de mãe.

Na quinta-feira, você confere uma entrevista com um advogado. O que esse profissional acha desse estereótipo? Não perca o próximo post!

Boa sessão!

Fernanda Pônzio
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Entrevista com professor Gabriel Pires


Ouça os trechos da entrevista com o professor Gabriel Pires, coordenador do Laboratório de Prática Jurídica do Departamento de Direito da Universidade Federal de Viçosa. Ele fala sobre o esteréotipo do advogado retratado no filme "O Mentiroso", sobre formação ética e vaidade.

O filme "O Mentiroso" (Liar Liar, EUA, 1996/97) do diretor Tom Shadyac, conta a história de um advogado vivido por Jim Carrey que usa a mentira como instrumento principal de seu trabalho. Seu filho, cansado de suas mentiras, deseja em seu aniversário que o pai não possa mentir por um dia. Assim, o personagem se atrapalha e acaba revelando seu verdadeiro caráter.





Na próxima segunda-feira você confere outro estereótipo do advogado: o idealista. O filme que será analisado é "O sol é para todos" (To Kill a Mockingbird, EUA, 1962) do diretor Robert Mulligan. Boa sessão!



Pedro Ivo e Titina Cardoso
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O advogado e os dois lados da mentira


O profissional desta semana aqui no blog é o advogado. O filme que escolhemos para tratar desta profissão é "O Mentiroso" (Liar Liar, EUA, 1996/97) do diretor Tom Shadyac. Na trama, o advogado Fletcher Reede (Jim Carrey) usa a mentira como principal ferramenta em sua profissão. Fletcher se depara com uma situação complicada depois que seu filho deseja em seu aniversário que o pai não possa mentir por 24 horas. O advogado passa por um dia difícil, ainda mais, quando tem que defender uma mulher no tribunal que trai o marido e quer se separar dele. Sem poder mentir o personagem vivido por Jim Carrey acaba mostrando seu verdadeiro caráter para seus colegas de trabalho, amigos e até o filho.


(Trailer oficial do filme O mentiroso - em inglês)

O diretor Tom Shadyac fez vários filmes de sucesso e realizou outras parcerias bem-sucedidas com o ator Jim Carrey.

O estereótipo de advogado mentiroso mostrado no filme foi o assunto do bate-papo que o Profissão em cena teve com o professor Gabriel Pires, coordenador do Laboratório de Prática Jurídica do Departamento de Direito da Universidade Federal de Viçosa. Na entrevista, Gabriel Pires fala, que no caso do estereótipo do advogado "malandro" apresentado no filme O Mentiroso, "o cinema incorporou a prática social".

Para o professor, a utilização de meios condenáveis, como a mentira, podem demostrar "desespero" para conseguir um espaço no mercado. Em outros casos é uma situação de vaidade. Mas ressalta que este tipo de advogado não é regra. Gabriel, ainda acrescenta que, muitas vezes, "é o próprio cliente que cobra uma postura pouco ética do advogado" na vontade de alcançar um resultado favorável a qualquer preço. Ele aproveita e destaca o papel da universidade na formação ética dos estudantes. Ele acredita que "hoje nós vivenciamos uma fase de banalização dos cursos de direito".

O professor assume que já mentiu, mas considera que existem dois tipos de mentira: a boa e a ruim. Para Gabriel, a "mentira" no direito é necessária para que este evolua, pois uma coisa que é condenável hoje pode não ser amanhã. Mas quando se refere a uma mentira, faz questão de destacar que tudo deve ser feito no "limite da lei". Para saber se uma mentira é boa ou ruim, Gabriel tem um critério: se causar prejuízo a alguém, a mentira é ruim, se não, nem faz mal.

No próximo post, quinta-feira, você confere um podcast com os melhores trechos da entrevista com o professor Gabriel Pires.


Pedro Ivo e Titina Cardoso
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