Ciência é sinônimo de isolamento no cinema


No último post analisamos dois estereótipos do cientista em diferentes filmes: "Ponto de Mutação" e "O homem sem sombra". Para aprofundar a análise no campo, principalmente, da ética na ciência, o Profissão em cena conversou com a professora do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa, Ana Louise Fiúza, sobre o filme de Fritjof Capra. Ela focou a personagem da física Sonia Hoffman.

Ana Louise acredita que na maioria dos filmes com personagens cientistas, estes são retratados "como alguém que está a parte da realidade, alguém que vive meio isolado, ou é uma pessoa estranha". Para a professora, Sonia também se aproxima dessas características, uma vez que ela se define "como uma ex-cidadã americana, ex-eleitora, uma 'ex até mulher', como uma pessoa separada."

Mesmo que Sonia esteja fora da sociedade, Ana Louise afirma que ao criticar a sociedade e propor uma nova forma de fazer ciência, a personagem já está se relacionando com o mundo em que está inserida. "Na verdade ela trabalha dentro da perspectiva da Física Quântica, que é uma perspectiva de superação da própria física, da mentalidade mecanicista." afirma a professora. Ela acrescenta que para a personagem na vida não há certezas, há probabilidades, dessa forma a ciência tem que ser mais cautelosa nas proposições que faz.

No filme, Sonia vai para um vilarejo isolado por não concordar com os fins que seus estudos são aplicados. Ao falar sobre os valores do cientista, Ana Louise, destaca que a ciência não é neutra. "O cientista é o produto da época dele" e as pesquisas e estudos desenvolvidos por ele também estão marcados pelos valores da sociedade da qual fazem parte.

A professora ressalta que isso não isenta o cientista de um rigor nos estudos e de testar as hipóteses que formula. Outro ponto que Fiúza lembra, citando Marx, é que mesmo nos estudos mais inovadores, o cientista depende do contexto em que vive até mesmo para romper barreiras e "ninguém pode ser mais que a sua época permite".

No player abaixo você pode escutar trechos da entrevista com Ana Louise Fiúza.
Pedro Ivo e Samanta Nogueira
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Limites éticos: o cientista no cinema


Toda profissão se depara com a ética no cotidiano do trabalho. Um dos profissionais que mais lida com este assunto é o cientista. Muitas pesquisas e experiências estão no limite do que é considerado certo ou não em uma determinada sociedade e um determinado contexto.

Dois filmes que demonstram bem esse conflito ético é o suspense "O homem sem sombra" (The Hollow Man, EUA, 2000) e "Ponto de Mutação" (Mindwalk, 1990), baseado no livro The Turning Point, do físico austríaco Fritjof Capra (site oficial, em inglês).

O primeiro filme trata de um cientista genial, porém ganancioso ao ponto de não respeitar limites morais da profissão. Dr. Sebastian Caine, interpretado por Kevin Bacon, não mede esforços para alcançar o êxito na experiência na qual acredita. Para isso ele chega a por em risco a vida de cobaias envolvidas na pesquisa. Ele também testa o experimento que possiblita a invisibilidade em si mesmo, mas sua equipe não consegue reverter o processo. Com isso o clima de tensão entre o doutor e sua equipe aumenta e o Dr. Caine se torna uma pessoa agressiva e descontrolada.

Veja trechos do filme no Youtube.

Já o "Ponto de Mutação" trata de uma cientista que abandona a profissão por não concordar com os fins nos quais sua experiência será aplicada. A física Sonia Hoffman, vivida por Liv Ullmann, se muda para um vilarejo no interior da França para repensar a vida e a profissão. A trama é basicamente um diálogo entre Sonia, o senador americano Jack Edwards (San Waterston) e o poeta Thomas Harrimann (John Heard). Ela defende a teoria dos sistemas vivos, baseada nas redes de relações das essências das coisas vivas. Uma nova forma de fazer ciência.


(trecho do filme "Ponto de Mutação - legendado)

No filme "O homem sem sombra" podemos observar várias características apontadas no post "Top 10 estereótipos de cientistas malucos no cinema" no blog Blogpaedia, como o uso de recursos científicos sem freios, aplicação do experimento em si mesmo e comportamento psicóticos.

Além desses dois estereótipos podemos observar no cinema vários estereótipos de personagens de cientistas. A jornalista Lacy Barca, no artigo "As múltiplas imagens do cientista no cinema" (. pdf) trata das diversas representações dos cientistas no cinema ao longo do tempo. Lacy Barca ressalta a tendência atual de criação de personagens heróicos e descontraídos, isso leva a uma construção positiva acerca da imagem do cientista.

Confira no post de quinta-feira mais informações sobre o estereótipo do cientista no cinema. Boa sessão!

Pedro Ivo e Samanta Nogueira
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