O choque cultural na sala de aula


Para falar sobre o estereótipo do professor no cinema conversamos com a professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa, Dalva Maria Soares.


A professora acredita que o filme “subestima o protagonismo juvenil e superestima o poder do professor”. Ela concorda que o professor é um importante agente transformador, principalmente na escola. Mas também diz que ele não conseguiria sozinho mudar a realidade de uma turma, como acontece no filme. Dalva comenta sobre o filme Coach Carter - Treino para a vida, em que também há o estereótipo de agente transformador. Nesse caso, o agente é o técnico do time de basquete de uma escola na periferia da Califórnia.


Dalva acredita que “a escola não avalia (apenas), ela faz julgamentos morais” e exige do estudante um comportamento esperado em uma determinada sociedade. “O estudante deve dominar os códigos sociais” afirma ela. Isso é o que acontece no filme Ao mestre com carinho, quando o professor muda sua postura em sala e trata os estudantes como adultos. Mark Thackeray espera que os alunos o tratem de uma forma que não estavam acostumados. Ele determina que os estudantes devem ser formais, até na forma de se tratarem, chamando-o de mestre ou pelo sobrenome e os colegas de classe com formalidade. Os ensinamentos se estendem, saem da classe. O professor Thackeray fala sobre modos, comportamentos e até casamento.


Dalva conta que no início da carreira “tinha a pretensão de atingir a todos os alunos, mas com a experiência profissional percebeu que atinge um ou outro”. Ao contrário do que é mostrado no filme, ela afirma que na realidade acontece de “atingir um (estudante) e a maioria reluta em mudar”. Isso porque as motivações do professor e estudante, e entre os próprios alunos, são diferentes frente à educação.


O que acontece dentro de sala é um choque cultural. Dalva utiliza um termo de Pierre Bourdieu ao falar que a diferença entre o capital cultural dos professores e dos alunos muitas vezes impede uma comunicação efetiva dentro da sala de aula. Não é possível que se tenha uma boa aula sem que o professor e estudante tenham uma percepção próxima do papel da educação, este processo é dialógico.


Atualmente os professores encontram grande dificuldade de se comunicarem com os alunos. Dalva avalia que a universalização do ensino criou um problema nas escolas: o perfil dos alunos mudou e se tornou diversificado, isso “acabou transformando a identidade do professor”. O educador tem que lidar com uma realidade para a qual não foi preparado. “O mundo é outro e a escola não mudou” diz a professora.


Ao falar do cotidiano do professor, Dalva lembra do livro Alienígenas na sala de aula: Uma introdução aos estudos culturais em comunicação. Para a professora, dentro da sala de aula “um não fala a língua do outro”. Ela considera ainda que a o processo educativo “tem que fazer sentido”, tanto para o aluno como para o professor, dois sujeitos sociais distintos com uma visão diferente sobre a escola.


Na semana que vem nós continuamos analisando o professor no cinema. Não perca! Boa sessão!
Fernanda Pônzio e Pedro Ivo
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O papel do professor


Esta e a próxima semana serão dedicadas ao professor. Neste post vamos falar sobre o filme Ao Mestre com Carinho (To sir, with love, Reino Unido,1967), de James Clavell. O filme é baseado no livro homônimo de Eustace Ricardo Braithwaite.

A história é sobre um professor negro que por falta de oportunidades de trabalhar como engenheiro resolve lecionar em uma escola secundária de um bairro operário de Londres, East End. Mark Thackeray, interpretado por Sidney Poitier, enfrenta as hostilidades de uma turma indisciplinada. A princípio, ele sofre e não recebe a atenção dos alunos que querem a saída de Thackeray, assim como fizeram com os professores antecessores. Ele também não encontra apoio de alguns professores, desacreditados no papel da educação. Mesmo com as dificuldades, Mark não desiste e aos poucos vai conquistando os estudantes.

Mark Thackeray aceitou lecionar como uma ocupação temporária. Mas a relação que cria com os alunos o faz repensar essa posição. Ele é convidado a voltar a trabalhar como engenheiro no interior do país. Ao ser homenageado na formatura dos alunos se emociona e tem que decidir se pretende continuar na escola.


(trecho de Ao mestre com carinho - legendado)

Este estereótipo do professor criado pelo cinema pode ser visto também no filme "Meu mestre minha vida" (Lean on Me, EUA, 1989) com Morgan Freeman. O professor Joe Clark tem uma postura mais autoritária que Mark Thackeray, mas é representado como o agente transformador de uma escola com estudantes rebeldes.

Em ambos os filmes, a figura do mestre é vista como a responsável pela mudança e melhoria da situação de escolas com estudantes problemáticos. O professor Mark Thackeray é retratado como uma pessoa ética, honesta e idealista. Este estereótipo revela a importância da educação como elemento formador de cidadãos.

Na quinta-feira o Profissão em cena traz uma entrevista com a professora do Departamanto de Educação da UFV, Dalva Maria Soares. Ela fala sobre o filme, a representação do professor no cinema e o cotidiano deste profissional. Boa sessão!

Fernanda Pônzio e Pedro Ivo
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