Uma visão socialmente compartilhada


Antes de começar a analisar os estereótipos de profissões no cinema, vamos falar um pouco sobre o conceito de estereótipos em geral. Esses modelos, criados e perpetuados por relações socioculturais, são transmitidos pelas instituições como família, escola e meios de comunicação, como afirma a professora Rosa Cabecinhas da Universidade do Minho (Portugal). No artigo "Processos cognitivos, cultura e esterótipos sociais", baseado nos estudos de Katz e Braly (1933; 1935), a professoa destaca que por meio dessas relações socioculturais, os estereótipos tornam-se consenso para diferentes grupos que, muitas vezes, desconhecem o verdadeiro objeto estereotipado. Mas, afinal, o que é estereótipo? E que ele tem a ver com o cinema? Nesse post, você vai ler uma entrevista com a professora de História da Universidade Federal de Viçosa, Patrícia Vargas, que fala sobre as relações entre estereótipos, Cinema e História.






Profissão em cena: O que é um estereótipo?


Patrícia Vargas: Os estereótipos se referem à enumeração de atributos, geralmente traços de personalidades ou psicológicos, associados a diversos grupos sociais e que se aplicam a todos os seus membros. Para que os estereótipos funcionem, eles precisam ser suposições socialmente compartilhadas a respeito de indivíduos ou grupos sociais e a percepção de uma homogeneidade de grupo e padrões comuns de comportamento. 
 

Como o cinema ajuda a criar estereótipos?


Não apenas o cinema, mas os meios de comunicação ajudaram senão a elaborar, a divulgar e a perpetuar certos estereótipos. Ou mesmo a criticá-los. Pensando em particular o cinema, podemos tomá-lo como uma técnica, meio de comunicação de massa ou arte que tem a capacidade de imprimir uma “impressão de realidade” (Jean-Claude Bernardet), de maneira a criar a impressão de que é a própria vida que de descortina na tela. O cinema tem a capacidade de conferir realidade às fantasias. Neste sentido, mais do que criar estereótipos o cinema, através de seus filmes, ajuda a mostrá-los, a confirmá-los, a reproduzí-los ou a denunciá-los. Os estereótipos auxiliam o cinema na criação de “tipos”, que rotulam indivíduos e grupos sociais ou perspectivas de “como se vive”. Como exemplo, nos anos 50/60 do século XX, não apenas no cinema mais na mídia, tipos como “a desquitada”, “a normalista”, “o jovem transviado”, “o conservador”, “a mulher submissa”, “a mulher frágil”, “o militar”.



Os fatos históricos criam estereótipos?


Os fatos históricos ajudam a expressar e reforçar os estereótipos, uma vez partindo do pressuposto que estes são elaborados socialmente a partir de experiências históricas distintas e concretas. No entanto, por outro lado, podemos apontar que existem uma série de “estereótipos históricos” que são de difícil desconstrução, pois não necessariamente o que se vê ou lê sobre a história ocorreu. Por exemplo, no Brasil, indígenas representados como heróis medievais pela literatura, música e artes plásticas do Segundo Império ou da figura de Tiradentes semelhante a Cristo (ele morreu careca e imberbe) realizada pelos pintores no início da República.




Samanta Nogueira e Titina Cardoso

6 comentários:

Ana - Baiana disse...

Bom conteúdo!
Esta mesma reflexão se coloca se explorarmos a frase da introdução: os estereótipos tornam-se consenso para diferentes grupos que, muitas vezes, desconhece o objeto estereotipado.
A própria palavra "consenso" tem muito a ver com o que o estereótipo em si é.
Isso me lembra também a própria piada como instrumento socialmente criado.
Gosto deste assunto,
Abraços.

Profissão em cena disse...

Obrigado Baiana.
A próxima (e primeira) profissão a ser analisada será o jornalismo. Acho que você irá se interessar e espero que continue nos acompanhando. Qualquer sugestão é bem-vinda!

Unknown disse...

E os estereótipos criam preconceitos né... Mas tem muitos filmes que ajudam a desmistificar alguns estereótipos e preconceitos, vocês podiam falar de alguns filmes que fazem esse contraponto! beijos galera!

Profissão em cena disse...

É verdade, Marília!
Estamos buscando filmes que mostrem diferentes tipos de estereótipo de uma mesma profissão.
Muitas vezes, os filmes desmistificam algum tipo de estereótipo e criam outros. Mas vamos pesquisar mais e trazer bons exemplos.
Obrigado pela dica!

André HP disse...

Na questão dos traços, a mídia acentua mais que o cinema, acho.

Abraço!

Profissão em cena disse...

André, realmente a mídia é uma grande parceira do cinema na propagação desses traços, mas nós achamos que as duas andam lado a lado nesse ponto. Talvez a mídia os propague em um nível mais local e o cinema tenha um maior poder a nível global. Talvez...
Nesse blog, optamos por fazer um recorte e abordar mais especificamente o cinema, mas qualquer discussão é bem-vinda. Continue nos acompanhando! Abraço!

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